domingo, 15 de março de 2015

Mundo de Abismos

Hoje em conversa com uma amiga percebi um abismo que nos separa, não vivemos no mesmo mundo, não temos a mesma visão das coisas, não concordamos...

Quando alguém namora há 11 anos se depara com as histórias contadas por alguém solteira há 2 anos, numa cidade que respira sexo, traições, promiscuidade e vergonha em cada esquina, o efeito pode ser devastador...

Entra sem aviso, sem preparação num mundo que não conhece, que não é o dela, que não sabe como lidar, que não acredita muitas vezes existir...

Aqui tens de chamar a ti toda a compreensão, humanidade, amizade, aceitação pelo outro...

Mas como explicas a quem namora há 11 anos que muitas vezes te envolves sem amor, que te rendes a um one night stand, que te envolves com homens comprometidos, que não te rendes à hipocrisia que quem está "preso" numa relação vive, que o físico impera tentando (muitas vezes em vão) proteger o coração?

Ela não sabe o que é coleccionar desilusões, desgostos, amarguras, quedas no asfalto da vida, falhas... A cada uma o coração torna-se mais duro, mais frio, mais impenetrável... Torna-mo-nos mais soltas, mais livres, mais cínicas, mais manipuladoras, mais espertas, mais atentas, mais desenganadas...

E sim o amor não comanda a nossa vida porque o único amor que temos é o amor próprio porque o outro, o tão querido amor pelo outro, tarda em chegar, esconde-se atrás de uma noite de sexo intenso, de atracção sem intenção, porque não existe dia seguinte... É apenas a vida a continuar o seu percurso, sem pesos e sem rumo definido...

Querida J. não queiras saber o que é este mundo se a última vez que nele habitas-te pouco mais de 18 anos tinhas, quando não sabes o que se passa nele há mais de uma década, quando te encerras numa relação que na verdade nem sempre te fez feliz mas que aguentas-te até hoje, lutando arduamente para que tudo o que construís-te se mantivesse... Tens um feitio extraordinário e provavelmente só alguém como tu fez com que tudo resultasse... A espera, a compreensão, a tolerância que sempre depositas-te na tua relação fez com que chegasse onde chegou... Jamais seria capaz de levar certas situações a bom porto... Não é defeito é feitio... Se um dia voltares a saber o que é estar sozinha verás as coisas com outros olhos, de outra forma, de outra perspectiva... Verás como te conheces, como te sentes de dentro para fora, quando a única pessoa com quem podes contar és tu própria, quando o Nós deu lugar ao Eu, quando te tornas a única dona da tua vida, quando tudo passa a depender de ti, quando o mundo que conheces e em que vives desaba e tu com as tuas próprias mãos tens de construir um novo e sim sujarás as mãos, farás más escolhas, sofrerás, mas tudo, tudo o que passamos tem uma razão de ser, tudo o que nos acontece tem um sentido e quando estamos abertos ao mundo, com a nossa consciência limpa, de bem connosco, seguros de nós mesmos ai garanto que ninguém te conseguirá derrubar... sozinha, acompanhada... serás sempre tu e apenas tu neste mundo...

Porque a verdade é que muitas pessoas estão sozinhas quando acompanhadas, porque a única pessoa de quem devemos depender a nossa felicidade é nós mesmos... porque querida J. ninguém de fará tão feliz quanto tu própria...




1 comentário:

  1. Também não consigo compreender essas relações de fachada, mas isso sou eu!

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