terça-feira, 21 de outubro de 2014

O peso da "procriação"

Acabo de ler uma notícia que me deixa de facto estupefacta!

Em resumo há 19 anos atrás uma mulher, na altura com cerca de 50 anos, foi operada na Maternidade Alfredo da Costa a um problema ginecológico simples, onde lhe foi danificado o nervo pudendo passando a ter dificuldades a andar, sentar-se bem como nas relações sexuais que só aconteciam com muito sofrimento da lesada, ficando assim com a sua vida sexual comprometida. 

Após 19 anos de luta judicial e chegados agora ao Supremo Tribunal Administrativo, depois de vários recursos, a lesada vê a sua indemnização de € 172.000 diminuída para € 111.000 por Exmos. Juízes Conselheiros deste Tribunal considerarem que esta se encontrava em “idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança”.  

Pois gostaria que os Exmos. Juízes me explicassem, a mim e a várias mulheres, onde foram buscar essa ideia peregrina que a sexualidade vai perdendo importância à medida que a idade avança... 

Só vejo uma explicação para esta tomada de posição, aos meus olhos ridícula, os juízes do STA são todos homens e com bem mais que 50 anos e provavelmente insatisfeitos com a sua vida sexual... Não acredito que ninguém tenha comprovado cientificamente que o apetite sexual se perca com a idade ou que a partir dos 50 a vida sexual não ocupa o mesmo papel importante que ocupa aos 30. 

Uma pessoa com uma incapacidade de 73% para qualquer profissão que tem dores a sentar-se, andar, incontinência urinária e fecal e com uma vida sexual comprometida para toda a vida vê a sua indemnização ser diminuída pelo STA por se considerar que o bem tutelado tem um valor menor pela lesada, à data da cirurgia, ter 50 anos! 

O peso que ainda é dado ao valor da procriação em detrimento do valor da vida sexual saudável da mulher é gritante e inadmissível nos dias que correm... 

Ainda muito temos a caminhar nesta odisseia de pensamento, mentalidade em Portugal e sim este é uma notícia que deve ser dada ao mundo como uma (mais uma) vergonha na justiça portuguesa... 

  

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