"Não amaremos
talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os
nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não
acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca
cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma
homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida
inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos
para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.
É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem
se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no
prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o
porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão.
Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade
de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é
o seu aperitivo.
É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos
compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem
amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!" - Albert Camus, in 'A Queda'
Mais uma vez acordamos com a notícia de uma morte prematura, de alguém com a vida exposta à opinião pública, alguém a quem a morte chamou cedo demais... Mais uma vez é a prova viva de que quando chega a nossa hora nada pode ser feito a não ser aceitar... RIP Rodrigo Menezes
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